domingo, 28 de setembro de 2008

Matando a curiosidade

Ate hoje tem gente me perguntando como foi que rolou de eu vim pra ca. Pois bem, mais uma vez farei uso desse util instrumento pra polpar meus dedos com os minuciosos relatos personalizados e fazer com que a informacao chegue pra todo mundo de uma so vez.
Em setembro de 2007 participei de uma selecao feita por um grupo de pesquisa da Faculdade Filosofia e Ciencias Humanas da UFBA, na qual tinha que apresentar um projeto que relacionasse diversidade, multiculturalismo e diferencas na atencao a saude e que eu propusesse um estudo comparativo entre Brasil e EUA. Trata-se de um acordo bilateral de intercambio entre a Ufba a Ufrgs, no Brasil e a Fisk e a Vanderbilt, aqui, financiado pela CAPES e uma agencia de fomento que acho que eh daqui (FIPSE).
No ano passado so rolou uma bolsa pra Bahia e duas pro Rio Grande do Sul, ai quem veio foi um colega meu de Ciencias Sociais. Quando foi em maio deste ano o professor que fez a selecao me ligou perguntando se eu ainda tinha interesse no intercambio e, disfarcando minha euforia, fui pedindo todas as informacoes com tranquilidade. Dai ate o dia da viagem foi so consumicao: providenciar passaporte, esperar documento da faculdade que nunca chegava por causa da greve dos correios, ir pra Recife providenciar o visto, ja que na Bahia nao tem consulado americano. Enfim, deu tudo certo e to aqui muitas vezes ja querendo voltar, tantas outras achando que nao da tempo fazer tudo que tenho que fazer. Mas eh nessa contradicao que vou levando meus dias e tentando aproveitar da melhor forma. A esperanca do happy end eh que me anima.

Ah, quanto ao meu projeto: tratamento de saude etnicamente diferenciado. Quer mais detalhes? Va assistir a apresentacao da minha monografia, em Sao Lazaro, em 2010. Esepero que estejamos todos vivos daqui ate la!!!

Banzo

Saudade, homesick, seja la qual for a lingua ou palavra, esse eh o sentimento que vez por outra me acomete, principalemente nos finais de semana. Isso porque eh quando mais tomo consciencia de que aqui so vivo um dia atras do outro, sem fortes emocoes ou momentos de fato agradaveis como aqueles entre a familia, o amor ou os amigos. Claro que tenho passado por experiencias muito significativas, mas que por enquanto dizem mais respeito a vida academica; quanto a isso nao tenho do que me queixar: o sentimento de superacao cresce um dia apos o outro e me faz perceber o quanto somos muitas vezes acomodados e nos auto-sabotamos, nos colocando limites que na maioria das vezes nao existem. O contato com gente de varias culturas tambem eh uma experiencia maravilhosa. Faz a gente se dar conta que nossa visao de mundo, que ja eh limitada dentro do nosso proprio sistema de referencia – que eh a nossa cultura ou universo simbolico – torna-se infinitamente minuscula num mundo de possiblidades. Mas isso tudo isso fica pro consolo. Agora eh a hora do banzo!!!
Sair da rotina por uma semana, quinze dias ate um mes, que seja, parece algo muito atraente, mas quando vem a consciencia de que uma outra rotina se impoe por dois, tres, CINCO meses, bate o desespero. As referencias sao outras, as possibilidades, inesperadas. Nao se deseja o fim de semana; ele vem acompanhado de obrigacoes e monotonia, praticamente ninguem se ve; o exercito organico so deixa seu QG em busca da guarnicao. Almoco e janta sao as unicas horas que se ve pe de gente na faculdade e, mesmo assim, quando nao se vai em bando, a multidao e nada eh a mesma coisa.

sábado, 27 de setembro de 2008

Nota:

Senhores passageiros, em respeito a vossas solicitacoes, gostaria de comunicar que tambem nao gosto muito da ideia de nao usar nossa parafernalha ortografica, mas como diz Rafael, isso e reflexo do American Dream. Queiram compreender que meu teclado e gringo e nao entende que os acentos vao em cima das letras, o que causa muito transtorno na hora da digitacao. Sei que na hora da leitura tambem; mas queiram compreender o infortunio e continuem a bordo.
Quanto aos termos em ingles faz parte, afinal e ou nao eh uma incursao capitalista???? Tambem tenho meus percalcos por aqui...
Aproveitem pra tirar a poeira dos dicionarios!!!!

Beijinho pra todos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ouro preto

O assunto da vez por aqui e a falta de gasolina por conta do furacao que acometeu o Texas ha duas semanas e destruiu uma refinaria, ou sei la o que, que distribui petroleo pro lado de ca. O grande problema da galera por aqui e o comodismo e, muito provavelmente o sentimento que permeia alguns riquinhos metidos a besta ai do nosso Brasil varonil, de nao querer andar de buzu, por ser um habito plebeu. Tanto que se o bicho pegar mesmo, nem tem onibus suficiente pra todo mundo, ja que so uma companhia opera o transporte urbano por aqui, e alias que companhia!! O buzu por aki se abaixa, pra diminuir a dificuldade dos velhinhos com os degraus, alem de informar as ruas e paradas no seu intinerario.



Pois e, voltando pro assunto da gasolina, filas e filas se formam para comprar o combustivel racionado, e o bom por aqui e que o governo protege o consumidor: em caso de desastres naturais e escassez como esta, as distribuidoras nao podem se aproveitar das circustancias pra aumentar os precos. Enquanto isso as tropas americanas estao em Santos, bisbilhotando os pocos brasileiros…

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diversidade

Estou tentando encontrar a tao falada restricao aos estrangeiros por aqui. Ate agora a unica coisa que vi foi um multiculturalismo sem tamanho. Na verdade, nao vi, por que ele nao salta aos olhos em expressoes ou manifestacoes culturais diversas. Na verdade, falo da presenca de gente das mais diversas nacionalidades: jamaicanos, coreanos, chineses, japoneses, sauditas, nigerianos, brasileiros, enfim... Imaginem que hoje peguei um buzu pra ir dar um role na cidade, cujo motorista era haitiano e falava frances, mora aqui ha 19 anos e, provavelmente ja esqueceu o caminho de casa.



Dia desses conversando com um Coreano nao pude deixar de perguntar sobre o habito de degustar cachorros, ao que hesitante ele respondeu que nao comia e que os corenaos gostam de cachorros. Percebendo o desconforto do cabra completei dizendo que eles gostavam pra comer. kkkk Foi divertido!!! Disse a ele que nao precisava se preocupar em me falar sobre esse habito, ja que no Brasil a gente come vaca e porco. Mas a conversa nao rendeu e ate hoje nao sei detalhes de como o dog e servido.
Outro dia ele levou umas sementes pra falar do cha que costuma tomar e fica falando dos habitos alimentares coreanos com uma medica brasileira que tem no curso de ingles. Diz ate que existe uma comida por la que eles fazem e enterram, por ate seis meses, e depois comem. E, de tanto comer cachorro estao internalizando o habito canino de enterrar o mangute.kkkkkkkkk
Outra conversa interssante foi com uma nigeriana que fala yoruba, meio tapadinha que nao sabia que no Brasil tinha negros e que comemos acaraje. La eles comem acara, que alias, e o nome certo da nossa iguaria. Ficou muito interessada quando disse que a gente tem um museu com orixas e outro chamado Casa do Benin.Aproveitei pra perguntar o significado das nossas palavras iorubanas, que infelizmente, na maioria dos casos, so os candoblcisticas e o pessoal do movimento negro conhece: ijexa, ile aye, orixa...Essa nigeriana me surpreendeu quando disse que preferia ter amigos brancos e que nao gostava do fato da faculdade ser so de negros, que isso nao permite a diversidade no campus, que so veio pra essa faculdade porque aconselham-na assim na Nigeria – provavelmente por saberem que o racismo por aqui e barra pesada. Ela disse que nao sabe o que e preconceito racial, por que por la todo mundo e igual e explica que talvez por isso prefira se relacionar com o diferente. Nao sei! To tao contaminada com o odio racial que nao consegui entender essa inclinacao dela pro outro lado. Mas, felizmente, ela ainda nao sabe o que e o preconceito, embora talvez, muito em breve ela va conhecer por aqui...

domingo, 14 de setembro de 2008

Alfabetizacao Cultural

O estrangeiro e como uma crianca que, a cada dia aprende um novo codigo e se impressiona com tantas coisas que ainda existem no mundo por aprender. A impressao e que por mais que eu fique aqui por anos e anos, haveria mais coisa entre o ceu e a terra do que minha va sensibilidade podera compreender.
Hoje e aniversario de uma colega e logo no café da manha, aprendi que, em alguns lugares por aqui, existe uma tradicao de dar dinheiro ao aniversariante. Fiquei sabendo disso porque ela exibia uma quantidade de cedulas presa na roupa por uma presilha, que e um sinal de que a pessoa esta completando primaveras – e que com toda discricao que me e peculiar perguntei porque ela trazia o dinheiro preso na roupa e nao em outro lugar. Outro dia, na minha ignorancia cultural, deixei de cumprimentar uma menina que estava fazendo aniversario porque desconhecia o tal codigo.
O pior e quando nos deparamos com os codigos falsos cognatas. Kkkk



Outro dia me deparei com uma criatura que toda hora ficava batendo a palma de umas das maos contra a outra mao fechada. O nosso famoso copinho! Nao tava entendendo o porque daquilo em meio a tantas pessoas que talvez fossem ate desconhecidas dela, mas enfim, por aqui isso nao e nenhuma obcenidade, ela so estava pedindo silencio e que as pessoas ficassem quietas (como quando, no volei, os jogadores sinalizam com as maos que precisam de um tempo), porque as apresentacoes musicais que estavamos assistindo precisava continuar e o povo tava muito inquieto.

sábado, 13 de setembro de 2008

Salvador Card

Esqueci de mencionar as coisas estranhas que devem ser copiadas: consegui meu Salvador Card estadunidense que me da direito de pegar buzu de graca quantas vezes eu quiser. Essa proeza e possivel gracas a um convenio entre uma faculdade barona e o sistema de transporte da cidade. Ou seja, nao sao todas as universidades que conferem tal direito a seus alunos.
Possivelmente isso deve chegar a Salvador no proximo Big-bang.

Onde estou????

As vezes parece tudo tao estranho aqui. Nao falo do convivio diario com as pessoas, das aulas, do onibus, do supermercado...
Apesar de eventualmente entrar em conflito com uma porta que insiste em se fechar sozinha, com um onibus que manda voce ficar sentado ate ele parar completamente, com uma assinatura optica, no supermercado, quando se compra com um cartao de debito, essas sao coisas high-tech com as quais a gente ja esta meio familiarizado gracas as producoes holywoodianas. Nao falo disso; falo da vida em si, do comportamento das pessoas, da aparente apatia diante da novidade ou de um estimulo (aqui falo da falta de animacao em festas, apesar de eu so ter ido pra um som que rolou aqui na faculdade e que fiquei por meia hora e, da indisposicao dos estudantes - a maioria de outros estados - de ir conhecer a cidade).
Nao e possivel para um estudante americano ter uma vida completa enquanto na faculdade: passam de 4 a 5 meses longe da familia e dos amigos; sua familia passa a ser os colegas da faculdade. Nao e possivel ter uma continuidade entre trabalho, estudo, familia, vida amorosa, amigos, festas, a nao ser que consigam mudar tudo para a cidade onde concentrarao seus estudos. E impressionante como, ate quem e daqui mesmo, acaba vindo morar na universidade.
Hoje fui dar um passeio rapido no centro, pensei que fosse encontrar mais vida por la; mas nao! a gente quase nao encontra um pe de gente andando por aqui. Nao sei se porque fim de semana, mas em geral a caracteristica das ruas e essa. Sempre desertas... O povo so anda de carro. Tambem, podendo comprar um por 3.000 dolares...
Justificam essa falta de vontade de conhecer a cidade pelo fato desta nao ser muito aberta a diversidade, e que se sente isso melhor quando e negro. Pode ser que sim, a falta de receptividade pode causar isso, mas me parece que a falta de interesse e curiosidade cultural e anterior ao temor de nao ser aceito.
Aqui parece mesmo um internato, cada um em sua cela, enclausurado em seu proprio mundo, embora eventualmente possam compartilhar a sala de estar pra ver um filme ou se encontrar duarante as refeicoe.
Nao sei de que forma talvez isso possa ajudar as pessoas a se concentrarem mais nos estudos, mas num primeiro olhar nao me parece tao saudavel...
Enfim, por enquanto esta e a percepcao da American Way of Life por aqui, que ainda to tentando significar...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sobre o desperdicio

Definitivamente, este e o lugar…
Aqui as pessoas nao entendem quando a gente diz “just a little, please”.
- “Se voce nao quiser mais pode jogar fora, nao ligue pro resto do mundo que passa fome”. E por falar em fome, voces ja ouviram falar em uma historia macabra de que os indios por aqui fizeram um banquete pra receber seus colonizadores britanicos e que ao final, como agradecimento, eles mataram os indios e fundaram a Nova Inglaterra?
Pois e, essa e a historia extra-oficial que justifca a festa de acao de gracas por aqui ou thanksgiving, como diz o dialeto local, que sera celebrada na quarta quinta-feira do mes de novembro...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A libertacao (ou saindo da toca...)

Hoje foi o primeiro dia a botar a cara fora do campus, de fato. So tinha ido ali no Wall-Preco, de carona, para uma leve empreitada consumista. Imbuida da coragem de um turista pus-me a rriscar-me nas ruas de Nashville depois de diversas desconfiadas consultas sobre o melhor onibus a tomar. Cheguei em Vanderbilt, a disputada universidade dos exchange, com quase uma hora de antecedencia da aula. Enquanto esperava, assistia a uma especie de evento de boas vindas dos funcionarios,



com tudo que americano gosta: sorteio de brindes, muita goluseima, sessoes de massagem, painel para expressoes artisticas, fotos para recordacao... uma verdadeira quermesse primeiro-mundista.



Ao fundo, musica dos anos setenta, oitenta... E claro que nao ia ficar como cachorro em porta de acougue; nessas horas e sempre bom lembrar dos conceitos academicos pra justificar nossa cara-de-pau: pus-me aos poucos a praticar a “participacao observante”: uma aguazinha daqui, uma fotografia dali, ate a imersao completa: sorvete, sandwich, refrigerante, pipoca, massagem, caricatura, brindes... podia sair de la com uma viagem para as proximas ferias se a razao e a preocupacao com o horario do buzu nao me arrebatassem.




Foi um dia diferente e promissor. Os professores me receberam muito bem apesar da minha chegada com duas semanas de atraso. Assisti aula e depois fui tentar minha inscricao fora do prazo. Corre daki, corre dali, conheci uns quatro deles que falvam portugues, seja por quais motivos fossem. Foi o dia tambem de conhecer as figuras enigmatimaticas que vieram do Rio Grande do Sul participando do mesmo programa de intercambio. Apesar das ma referencias quanto aos provenientes do Sul, foram muito simpaticos; compartilharam comigo seus percalcos e se dispuseram a me atualizar quanto aos conteudos.
Tava disposta a so ficar na Fisk, mas um evento tragicomico me fez mudar de ideia: a descoberta de que uma das disciplinas que escolhi era on-line. Pra que diabos isto presta??? E logico que nao ia me abalar leguas pra vir cair no ciberespaco!!!!





Por isso Vanderbilt se impos na minha vida, alem do que vai ser muito mais produtivo, ja que la vou estudar Antropologia de verdade; na Fisk so estudarei temas tangenciais.
Ah! Para futuros editores e para aqueles que veem no livro um artigo de luxo, tomem nota de uma coisa: existe um troco aqui chamado text-book, que e a edicao piorada de uma publicacao que os estudantes usam, abusam, compram, vendem e trocam. E como aquelas edicoes baratinhas dos romances brasileiros, so que aqui e extensivo aos livros academicos que custam horrores. Me fizeram lembrar aqueles romances brega que vendem em Sebo e banca revista – Sabrina e companhia...
De volta a Fisk! Fui caminhar com as novas colegas, antes que seja necessario criarem um sutia para a barriga. Depois fui, finalmente, desfazer minha mala... me senti estranha, e como se aos poucos, comecasse a me dar conta de que cinco meses nao e tao pouco tempo assim...


Neurose in details

- Da proxima vez que for repetir uma refeicao, não o faça no mesmo prato se nao quiser parecer anti-higienico.
- E se eu quiser impressionar, que tal pedir a alguem pra fechar a torneira após lavar as mãos??????

domingo, 7 de setembro de 2008

As pessoas - Parte I

Todos tem sido muito prestativos. Sempre me abordam perguntando meu nome e de onde venho. Perguntam se conheco os brasileiros que passaram por aqui, se conheco uma tal de Adri do semestre de verao e dizem ate que pareco com ela. Imaginem, uma baiana parecida com uma gaucha. Mas enfim, bastou ser um pouquinho amarelo pra eles colocarem tudo no memo pacote… So um detalhe que ainda nao tinha contado: a Fisk e uma universidade de negros, por isso essa tendencia englobante de classificar tudo que e nao-negro como a mesma coisa. E a mesma historia do caminhao de japones…
Outro dia tava na fila do business office da universidade e a abordagem foi diferente; uma menina me viu com uma blusa e uma bolsa com palavras em portugues e ja veio me abordando falando portuges. Nao! Nao era brasileira. Tinha feito intercambio na Ufba, mais especificametne em Sao Lazaro, minha terra natal, kkkk. Disse que tinha ouvido falar que uma brasileira ia chegar e como viu coisas em portugues espalhadas pelo meu corpo logo supos que era eu. Me ajudou um pouco com os tramites burocraticos e vez por outra nos encontramos a caminho do refeitorio, que alias e onde mais se estabelecem as redes de sociabilidade; e impressionante como o ponto de encontro e sempre em torno da comida; o povo fica sentado em uns banquinhos perto da cafeteria, mesmo quando nao e hora das refeicoes, e ali conversam, conhece as pessoas; e tambem o lugar onde as irmandades se apresentam… Calma, nao sao irmandades homossexuais! Alias, eu nem sei ainda do que se trata exatamente. So sei que existe uma conpeticao entre elas, que existem simbolos, modos de agir e vestir a ela referentes e que uma delas foi extinta por que tratava os calouros de forma violenta. Tem ate partes do jardim que sao como territorios, membros de outra irmandade nao podem pisar, coisas do tipo. Ainda e uma coisa a ser melhor compreendida e que mais tarde vou tentar explicar.

Chegando...

Mais duas horas, de Dallas a Nahville; cheguei! Mais ou menos 11:45h do dia 02/09. Passagem rapida pelo restroom, cujo sensor de bunda era extremamente eficaz: descarga na entrada e na saida sem movimentar sequer um musculo.
Pequena apreensao: meu shuttle service nao estava la.
Um simpatico anciao tambem aguardava, com sua esposa, que o servico do hotel viesse busca-los. Admirado com minha mala, perguntou onde eu havia encontrado tamanho tao grande. Achei impossivel que ele, no primeiro mundo, nao tivesse encontrado ate maiores do que a minha. Mas toda essa conversa infrutifera foi providencial; comentei que meu transporte estava atrasado e que nao tinham como entrar em contato comigo. Afinal eu nao tinha um celular, a conta, pra ativar o roaming internacional... O simpatico velhinho logo me mostrou uma cabine com varios telefones, com os numeros de todos os shuttle services, nao imaginei que o meu pudesse estar la, pois este nao era vinculado a nenhum hotel especifico; mas estava...
Fiquei surpresa com essa cabine. Alem do servico telefonico gratuito, tinham varios assentos e ainda ar condicionado. Comentei que a gente nao tinha algo parecido no Brasil, me disseram que tambem era algo recente por aqui.
Liguei e 12:30h estavam la para me apanhar. O motorista me achou com cara familiar. Normalmente eles pegam os alunos no aeroporto todos os semestres letivos e achou que eu estava voltando de ferias. Foi o unico momento, desde que cheguei, que percebi que uma das coisas que faziam lembrar o Brasil era a mulher. Perguntei se eles ja tinham ouvido falar a respeito do pais e, um dos rapazes no onibus disse que era um dos paises que tinha as mulheres mais bonitas do mundo. Minha ressalva com o tema fez com que nao aumentasse conversa...
Cheguei na faculdade, finalmente! Fisk University. Uma colega de alojamento que estava passando logo me levou a Direcao do Dorm - e assim que eles chamam dormitorio -, larguei a bagagem e fui a Caf (cafeteria. em bom portugues, refeitorio) almocar. Primeira experiencia gastronomica (arrggg!!! ja estou comecando a nao aguentar), no primeiro dia tudo bem, se passa com uma fatia de pizza, um frango empanado ou coisas do tipo, mas o molho curry, como tempero predominante, ja nao suporto nem o cheiro, o tradicional tempero brasileiro com tomate, cebola, pimentao, alho e cominho, mandam lembranca... Tem ate algumas saladas, tenho as comido mais do que costumo no Brasil, tambem diante da falta de opcoes... e melhor arriscar no que e mais saudavel! Ja comeco a me preocupar em nao voltar quicando, mas acho que vai ser meio dificil voltar na forma original. Mas estou disposta a me esforcar. Diante de paisagens de silhuetas tao assustadoras, ate ja comecei a arriscar uns polichinelos e abdominais bymiself (So para ilustrar como e triste a obesidade aqui, tem um menino, ate jovem, que usa um top, uma especie de sutia, sei la, pra segurar a gordura do peito – e tragico). Estou, definitivamente, apavorada com a minha propensao a getting fat. E olhe que com meus 70kg pareco uma das mais magras do lugar. O legal e que pareco ter 22 ou 23 anos por aki. A galera de 19, 20 parece ter seus 25...
Essa primeira semana foi so para as solucoes burocraticas: pagar taxas da universidade, abrir conta em banco, fazer seguro saude e, o principal, sem o qual, nao posso viver aqui, my ID, cartao eletronico de identificacao do estudante, que me da acesso ao dormitorio, refeitorio, emprestimo em biblioteca, acesso a internet e o que ocorrer. E o meu codigo de barras ou numero da besta. Infelizmente, nao pude seguir a prescricao apocalipitica de me negar a aceita-lo. Era o pecado ou a morte!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

Odisséia

Estava alegre apesar da apreensão e tristeza que permearam os dias que antecederam a viagem. Apesar do desconhecido a minha espera, sentia-me preparada para ele.
O dia foi estranho, quase não pensava em nada, sei lá, não tinha saudade de casa nem muita empolgação com a novidade, parecia que tava indo cumprir um destino e pronto!
Mais uma obrigação profissional talvez; mas não era isso, o destino não se busca, simplesmente chega.
É estranho porque pensei que quando chegasse esse momento ficaria muitíssimo radiante, pelo evento em si, mas não; fiquei feliz com o que isso pode vir a significar e significa na minha vida, mas não pelo simples fato de vir.
Era uma sensação de quebra, de que talvez eu estivesse deixando de realizar coisas que talvez fossem prioridade nesse momento da minha vida, mas ao mesmo tempo era o anuncio de que minha vez tinha chegado e que não tinha mais como voltar atrás.
Até São Paulo tudo bem, depois da facada de nove reais num cartão telefônico, a in-surpresa no check-in da American Airlines:
- Sua mala passou por algum lugar de sua casa ate o aeroporto? Como se ela pudesse ir dar um rolé sem mim, franzi a testa e disse que nao.
Logo soube que se tratava de um dos trezentos procedimentos de segurança pelo qual eu passaria ate a apreensão do meu quik de morango, em Dallas.


era de caixinha mas serve pra ilustrar


Ah e ainda teve as seis horas de espera pra conexão, que de tão enfadonha esqueci de mencionar. Nessas pequenas horas, a única coisa que me chamou atenção é que o aeroporto de Guarulhos parecia uma coisa tão banal na vida dos paulistanos, que tinha mais era cara de rodoviária.
De São Paulo ate Dallas foi chão (ou nuvem)… a contar de meia-noite foram nove horas de sono mal-dormido no assento irreclinável da segunda classe. Chegando lá, o relógio ainda queria me convencer de que eram sete da matina. Mas não adianta, eu estava perfeitamente lúcida, sem álcool, sonho ou qualquer alucinógeno: foram exatas NOVEMALDORMIDASHORAS…
Antes do desembarque em solo ianque, a “simpática” aeromoça logo quis me dar uma breve demonstração da “politesse americana” quando pedi licença pra voltar ao meu assento apos uma visita à cabine dos dejetos, ao que sem entender palavra, respondi ficando quietinha esperando pacientemente ela sair da minha frente.
Do alto, a cidade parecia irritantemente planejada, dividida com uma precisão inimaginável na Soterópolis. Era possível ver de perto os famosos "blocks" dos quais ate entao só tinha ouvido falar nas aulas de “giving directions” do curso de inglês.
Após a odisséia alfandegária ate a apreensão do quik, sigo para a revista de corpo e bagagem de mão. Embalo os líquidos e gel num saco plástico, boto os sapatos na bandeja e atravesso o portal detector de metais rumo ao “paraíso”.

Ufa! Terrorista é ninja!!!!!!!!

Ops! Não sei se devia ter escrito essa palavra.

Continua…